Cá estamos para mais um post. Adivinhem o assunto. Eu geralmente falo durante a corrida eleitoral. Dessa vez? Nem um pio. Eu fugi disso como foge o demonho da cruz. E acho eu que o debate de ontem explicou – bem – as razões dessa fuga desenfreada. Essa corrida eleitoral inteira deveria caber num Panteão dos Parvos. Os candidatos perderam o mínimo de senso que tinham. Não houve noção do ridículo, do respeito, de nada.
Os eleitores? Não estão melhores. É, vocês mesmos. E eu falei em junho, gente. JUNHO. Que estava na hora de parar com essas bobagens maniqueístas categorizadas que vocês chamam de política e conversar de verdade sobre. Falar, ouvir, questionar, não levar trololó pra casa de resposta. Fui profeta: Política virou filme da Disney. É o bem contra o mal, a esquerda contra a direita, a princesa contra o vilão, os heteros contra os LGBTs, os ambientalistas contra o agronegócio, as empresas contra os trabalhadores, os fumantes contra os não fumantes, os que gostam de rosa contra os que gostam de verde, os notívagos contra os diurnos…

Pare de rir. Não tem graça. Este é o nosso cenário eleitoral. Temos os candidatos – um pior que o outro. Um candidato, além de idiota e pobre de espírito, cometeu um crime na cara de todo mundo e saiu rindo; a candidata que fez a pergunta, que é advogada, SABE que poderia e deveria dar voz de prisão na hora, ficou com cara de paisagem; a candidata do coque mente cinicamente na sua cara e você acredita; o candidato pastor fala tanta asneira que deve ser esquizofrênico; a candidata-presidenta mente na sua cara, tenta levar o crédito pelos atos dos outros e fala que tem autoridade onde não serve nem pra buscar o cafezinho; o candidato-galã de novela não poderia ser mais hipócrita e não poderia ter menos noção do impacto das ideias que pretende levar a cabo. Tem o candidato hipster, verdade. Mas a ele, falta autoestima política.
E temos os eleitores, mais perdidos que cegos em tiroteios na Rocinha. Ninguém se informa antes de falar. Ninguém sabe mais o que diz e sobre quem diz. Gente, isso é inútil.
Domingo é dia de votar. E você ainda não sabe por que vai votar no Fulano. “Ah Fulano é de esquerda/direita/whatever, por isso vou votar nele”. Acorda, Brasil. Isso não existe aqui. Vai votar por quê? Tem uma razão pra isso? Você sabe o que Fulano quer fazer? E essas propostas do Fulano, te ajudam ou te atrapalham? Você sabe quem você elege para o Legislativo? Você sabe o que vai fazer o seu deputado? Acorde. Por favor, ACORDE. Faltam 5 dias pra você acertar ou azedar o molho pra TODOS NÓS. Acorde e pense no que vai fazer. Não vá lá criar modinha. Não vá votar no Levy Fidelix ou no Raio Privatizador “porque é divertido”. Eu não vou achar divertido passar 4 anos com estes parvos tomando minhas decisões.
Sinto que domingo estaremos todos na merda, porque vocês não pensam. E gente como Levy Fidelix explora isso – ele sobe ali, fala um monte de asneiras, vocês acham bonitinho, e sempre lembram do tio do Aerotrem. Eu quero esquecer o tio do Aerotrem. Quero esquecer também a candidata do povo, que se afirma advogada, que usa esse título constitucional de indispensável à administração da Justiça e que sabe o que deveria ter feito, e nada fez. Quero esquecer essa gente que fala em “união civil” e “casamento gay” e que faz vocês acreditarem que isso existe, quando não é assim. Eu não quero tomar parte nesse circo infernal.
Isso que estamos vendo e vivendo? Não é política. É circo. E eu não sou palhaça.
Falando da parte jurídica da coisa: Levy Fidelix ontem cometeu crime, sim senhores. É uma injúria eleitoral – pode esquecer o Código Penal aqui, porque a lei especial vem na frente. Ele usou meio aviltante pra ofender dignidades e o fez de forma a facilitar a divulgação dessa injúria. Traduzindo: ele insultou todo mundo, de um jeito bem complicado – sem chance de defesa – e usou uma plataforma que só vai replicar essa ofensa, até os confins do Universo (comecem a contar quantos vídeos surgiram instantaneamente no Youtube, quantas reportagens citaram suas palavras diretamente, etc. Isso só tende a se propagar). E como a Luciana Genro nada fez ali na hora, todo mundo tem que se virar. Se você se ofendeu com o que ele disse, e essa ofensa atingiu a sua dignidade como pessoa, meus parcos conhecimentos dizem que você deve:
1 – procurar um advogado e avaliar com ele as chances de perseguir isso na esfera civil, porque foi um abalo indenizável;
2 – procurar o cartório eleitoral mais próximo, pra saber como proceder ao registro da ocorrência;
3 – procurar a delegacia mais próxima pra registrar o boletim de ocorrência (eu não sei se cabe, mas sinceramente, é a única coisa que conheço capaz de registrar ocorrência de crimes. Por isso coloquei o cartório eleitoral na frente, vai que é lá mesmo. Se não for, delegacia é sua amiga);
4 – procurar a Secretaria de Direitos Humanos do Estado de São Paulo e reportar ato de homofobia nos termos da Lei Estadual 10948/2001, e ficar em cima dos procedimentos;
5 – conversar de novo com o advogado pra fazer as estratégias e levar tudo pra frente. Vai demorar, vai ter uma série de obstáculos no caminho, mas o que importa é que o bigode do Aerotrem não saia ileso do que fez. E depende de você machucá-lo.
Acho – não tenho certeza disso, pois pra ter eu precisaria pesquisar sem sono e sem surtar na monografia, na prova de Procedimentos Especiais e nos resultados da OAB, o que não é possível neste momento – que uma punição nos termos da Lei Estadual tornaria Levy Fidelix inelegível. A injúria não se qualifica pra isso (é ação penal privada), mas a infração da lei paulista não tem esse caráter. E se muita gente encher o órgão público, o MP pode ajuizar Ação Civil Pública. E tudo isso pode desembocar no completo desaparecimento do ser.
Seria lindo. Mas depende de vocês. Tudo depende da sua iniciativa de levantar da cadeira, parar de xingar no Facebook e fazer alguma coisa. O Paulo Iotti deve saber de tudo isso e assim eu tenho fé. Mas ele, sozinho, não vai fazer esse verão. Você tem que ajudar. Se você tem algo mais em mente que pode ser feito: fale. Faça. Passe isso pra frente.
Estas são as armas que temos agora. Se a bancada evangélica não fosse tão idiota, e Jean Wyllys não fosse tão pentelho, eu não precisaria ter escrito tudo isso, pois homofobia seria crime. Se as pessoas soubessem que a liberdade de expressão não existe para permitir que sejam todos idiotas, eu não teria que escrever tudo isso. Enfim. Num mundo ideal, já diziam Jasmine e Alladin no tapete voador. Este é o mundo real, e nele, temos que fazer o que dá, e como dá. Eu sentei e pesquisei a noite inteira um jeito de travar esse ser humano; achei isso. Espero que façam bom proveito. Esperam que façam alguma coisa. Espero que lutem, que digam que NÃO, isto não prevalece. Que ele e o “monte de gente que pensa assim” estão errados. E que nós, pessoas pensantes, vamos lutar contra essa maioria de gente idiota. A Valkyria te olhando ali em cima não apareceu à toa. Ela vai te receber no Valhalla se você fizer a coisa certa, pelo menos uma vez, e lutar pelos seus direitos e pelos direitos dos seus pares. Seja guerreiro.
Agora chega. Tenho uma carta pra escrever.